ESPELHO CEGO
Este espelho cego que me atravessa
desmascara a coroa da moeda:
elimina a espessura da promessa,
colocando-me frente a frente à queda.
O punhal luminoso, na travessa,
mais parece um banquete que não veda
o apetite – verdade mais espessa –
que devora o monstro brando, de seda.
Esta espátula rústica e avessa
estilhaça a muralha que arremeda:
minhas fugas desandam na cabeça,
que, em vertigem, decide que conceda
a si mesma a razão que se confessa
– meu reflexo é meu outro que me enreda.
(poema CARLOS COSTA foto FLAVIO PORTO)