quarta-feira, 2 de maio de 2012





ESPELHO CEGO


Este espelho cego que me atravessa
desmascara a coroa da moeda:
elimina a espessura da promessa,
colocando-me frente a frente à queda.
O punhal luminoso, na travessa,
mais parece um banquete que não veda
o apetite – verdade mais espessa –
que devora o monstro brando, de seda.
Esta espátula rústica e avessa
estilhaça a muralha que arremeda:
minhas fugas desandam na cabeça,
que, em vertigem, decide que conceda
a si mesma a razão que se confessa
– meu reflexo é meu outro que me enreda.


(poema CARLOS COSTA  foto FLAVIO PORTO)

terça-feira, 27 de março de 2012



O PÓRTICO


Abre-se, para dentro e para fora, o pórtico. 
 É estreita e ambígua a passagem, dispersa
como um beco distraído na avenida:
quem se aventura a ultrapassar o seu umbral,
não sabe ao certo se é o princípio, se é o final
de uma rua antes ou jamais percorrida;
se é um muro sem alcance para o novo,
se é apenas um hiato da memória.
Há holofotes e quilômetros ao redor,
transformando, súbito, em celebridades,
os invisíveis – sem palco, história e talento.
Será o pórtico um pilar de ferro e cimento?
Ou será o caminho magro à revelação,
que só enxergarão aqueles de alma sem óculos? 


(poema CARLOS COSTA foto FLAVIO PORTO)


segunda-feira, 26 de março de 2012

Apresentando:  Luz & Verso

Este blog apresenta composições de fotos e poemas. O jornalista e fotógrafo FLAVIO PORTO e o letrista e poeta CARLOS HENRIQUE COSTA procuram realçar, em alternância cronológica, as sombras do verso e as luzes do anverso.
Pelas duas artes, geram um terceiro elemento: a imagem do verso e o verso da imagem. Como na sala escura o negativo se escreve em contornos esperados, o papel em branco fotografa detalhes jamais antes revelados.